terça-feira, outubro 24, 2006

E Se Amanhã?

"Há histórias felizes, ou melhor, momentos felizes. Mas questionar a vida, o que somos, o que fazemos aqui e para onde vamos não é um erro. Ao invés, se todos aceitássemos a realidade do dia-a-dia como única e imutável, não haveria sonhos nem desilusões. Porque viver é isto. Acordar todos os dias com a cabeça cheia de perguntas e o coração aos sobressaltos. e cada dia é um desafio que, às vezes, poucas, vencemos; outras perdemos para nós mesmos."

Luísa Castel-Branco in Destak

segunda-feira, outubro 16, 2006

O Mito de Europa


Europa, bela filha de Agenor, rei da Fenícia, encontrava-se a brincar com as amigas numa praia de Sídon, quando vê um touro branco aproximar-se. As suas belas formas e o seu aspecto pacífico encantaram-na. Inicialmente, dá ao touro um pouco de ervas para ele comer, o touro agacha-se para que ela possa acariciar o seu dorso e Europa ousa sentar-se nele. Neste momento, o touro ruma em direcção ao mar e dirige-se, a toda a velocidade para a ilha de Creta, segurado num dos cornos por Europa, enquanto as suas amigas ficavam na praia preocupadas com a situação. Ao chegar a Creta, o touro transforma-se em águia mas ambos os animais eram, na realidade, Zeus, de quem Europa tem três filhos: Minos (o rei de Cnossos), Radamante e Sarpédon. Enquanto tal se passava, Agenor manda os seus outros filhos em busca da sua irmã, entre entre eles Cadmo. Ora este, na sua viagem, chega à Fóssida, onde encontra uma vaca, que tinha no seu corpo uma marca em forma de lua-cheia, e com ela procura sua irmã até que a vaca caiu para o lado, extenuada, na zona de Tebas; nesta zona instalou-se Cadmo e fundou a cidade de Tebas. Aqui erigiu um templo a Atena e, ao buscar água a uma fonte donde ela brotava muito pura, encontrou a guardá-la um dragão feroz que, contudo, Cadmo matou. Enterrou os dentes do dragão na terra e deles nasceram os Espartoi, os Espartanos, que cresceram gigantes e, já adultos, combateram entre si, sobrando apenas cinco deles, submetendo-se depois a Cadmo. Além disto, Cadmo é o herói civilizador, pois foi ele que, segundo a lenda, introduziu o alfabeto fenício na Grécia. Posted by Picasa

sábado, outubro 14, 2006

A Igreja

Venho aqui fazer a defesa da Igreja que, penso, tem sido vítima de algumas injustiças. Mas, não quero também aqui dizer que a Igreja não tem defeitos, pois certamente que os tem. Uma das injustiças prende-se com a redução da doutrina da Igreja a dois ou três aspectos que, analisando a mesma doutrina, assumem um papel secundário. Um deles é a oposição da Igreja à homossexualidade. É certo que a Igreja se opõe à homossexualidade, mas defende em primeiro lugar a tolerância; um bom exemplo desta tolerância é o episódio da mulher adúltera: Jesus, apesar da religião opor-se à promiscuidade, defende a prostituta e afirma: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Noutras ocasiões Jesus defende também que não se deve julgar, antes compreender e ele próprio relaciona-se com Maria Madalena, rejeitada por outros por ser prostituta. Aplicando ao caso da homossexualidade, pode concluir-se que a Igreja opõe-se à homossexualidade mas preza ainda mais a tolerância, inclusivamente para quem tem este tipo de orientação. Pois a violência e a rejeição incompreensiva não resolvem o problema, nem apontam soluções, mas a tolerância e o afecto dão tranquilidade às pessoas e ajudam-nas a pensar e a agir melhor. Ainda em relação à Igreja, a sua doutrina é vasta e o próprio Papa faz inúmeras homilías ao longo do seu papado, versando sob os mais variados temas, e existem também inúmeras posições oficiais da Igreja sobre os mais variados temas, mas por vezes as únicas de que se fala são as que versam precisamente sobre a homossexualidade, o aborto, o preservativo. Ora estes temas são menores na religião, ainda que assumam relevância na actualidade; a Bíblia, que é a principal fonte de inspiração da doutrina católica, não refere muitas vezes a questão da homossexualidade, à parte um ou outro episódio, e incide muito mais sobre outros temas, como o amor, a tolerância, a caridade, a liberdade de espírito, a fidelidade, a oposição à vaidade, o altruísmo...E considero também injusto que, mostrando-se aquilo que pode levar as pessoas a pensar que a Igreja é conservadora e retrógrada e que ajuda as pessoas a ter uma imagem negativa da Igreja, não se mostre também a obra social da Igreja: as missões em África, os orfanatos, etc.. Por fim, também acho injusto que um escritor faça um livro de ficção sobre a Igreja e tente fazer passá-lo por realidade; porque uma coisa é fazer ficção e assumi-lo, outra é inventar factos que denigrem um conjunto de pessoas e instituições e fazê-los passar por verdadeiros, ganhando milhões à custa de mentiras, isto independentemente do livro estar bem escrito, o que provavelmente é o caso.

quinta-feira, outubro 12, 2006


Ainda o Palácio de Cnossos e os seus frescos com motivos marinhos Posted by Picasa


Sala do trono do Palácio de Cnossos, com um fresco ao fundo Posted by Picasa


Ruínas do Palácio de Cnossos, em Creta Posted by Picasa

Mitos do Labirinto

Reinava Minos, filho de Zeus e de Europa, na próspera ilha de Creta, ainda antes da Guerra de Tróia e após afastar do trono os seus irmãos, também eles pretendentes. Para lhes provar que os deuses o haviam escolhido em lugar deles, pediu a Posídon que fizesse sair do mar um touro, que seria de imediato sacrificado àquele deus. E Posídon assim fez acontecer. Aconteceu, porém, que o toura era tão belo, tão invulgar, que Minos decidiu conservá-lo para si, quebrando assim a promessa que havia feito. Ora, por esta altura, estando Dédalo, o mais famoso artista, escultor e inventor desses tempos, em Creta, recebido por Minos, este aproveita o facto para o incumbir da construção do grande palácio real de Cnossos, com o Labirinto, que tornava quase impossível a saída do palácio a quem não a conhecesse antes. Mas Posídon enfurecera-se com a falta de palavra do rei Minos e, como castigo, fez a mulher do rei de Creta, Pasífae, apaixonar-se pelo touro, de quem veio a ter um filho, o Minotauro, metade homem, metade touro.
Minos esconde o Minotauro no Labirinto, envergonhado, e para satisfazer o seu apetite obriga a cidade de Atenas a ceder sete rapazes e sete raparigas para esse efeito, anualmente. Na terceira vez que Atenas saldava o imposto, Teseu, filho de Posídon, era um dos rapazes. Ao chegar a Creta cruza-se com Ariadne, que de imediato se apaixona, e para o salvar da morte quase certa consulta Dédalo sobre a maneira da sair do labirinto. Este aconselha-a a dar a Teseu um rolo de fio que desenrolaria à medida que fosse penetrando no palácio. O herói cumpre a sua tarefa e, após matar o Minotauro, regressa sem se perder no Labirinto, graças àquele fio, o fio de Ariadne.

domingo, outubro 08, 2006

Sic transit gloria mundi

Há um tempo que não escrevo para o blog e para ele não ficar esquecido e para eu treinar a escrita decidi escrever mais um texto. Na realidade, este parte da frase que lhe dá o título e que significa "assim passa a glória do mundo". Por vezes penso neste assunto e hoje particularmente veio-me duas vezes à cabeça. Vê-se actores com grande sucesso nos dias de hoje que, pensando bem, há dois ou três anos viviam possivelmente no desemprego ou com empregos não muito bons (caso contrário não os teriam largado para ser actores, em princípio). Após uma participação numa novela, tornam-se famosos de um momento para o outro, o que mostra que um dia pode-se ser mais um para o monte e no outro uma estrela; em casos mais extremos podemos passar de falhados a génios. Van Gogh, por exemplo, foi durante quase toda a sua vida o protótipo do falhado: em jovem queria ir para padre e não foi aceite no seminário, se não estou em erro; ao longo da sua vida viveu da generosidade do irmão, que o sustentava; as relações sociais eram praticamente inexistentes ou quase irrelevantes, à parte a relação com o irmão; após o irmão, dono de uma galeria de arte, convencer Gauguin a passar uma temporada com ele e na sequência da desaprovação da sua obra por este (segundo creio, mas não tenho a certeza de ter sido esta a razão), Van Gogh corta a sua própria orelha. Não obstante isto e possivelmente "ajudado" por estes factos que tornam a sua vida, para alguns, comovente e sendo também exemplo do génio incompreendido, obtém já no final da sua vida o reconhecimento que a sua obra e a sua dedicação mereciam e hoje é um dos pintores mais famosos em todo o mundo e talvez apenas cinco ou seis pintores de todos os tempos consigam rivalizar com ele em termos de fama internacional. Outros poderiam servir de exemplo mas, de facto, a glória é transitória. E, se é transitória no sentido ascendente, também o é no sentido descendente. Ainda hoje, o Pedro Xavier notou que o filme Titanic foi ao seu tempo grande sucesso e ganhou inúmeros óscares e outros filmes mais antigos que nunca ganharam óscares são hoje mais recordados que aquela grande produção.
Isto faz pensar no papel que, de facto, têm o mérito e a sorte. Pois, se no final parece que é feita justiça ainda que tardia, pelo meio parecem acontecer algumas injustiças e julgamentos errados e, no meio destes, pode determinar a sorte que sejamos favorecidos. Não quero dizer que toda a gente famosa e rica tem sorte e não mérito; sorte tem de certeza e mérito provavelmente também, mas é espantoso como, por vezes, um dia em que, por exemplo, uma pessoa é seleccionada num casting pode mudar a sua vida para sempre e dar-lhe o estrelato e, por outro lado, se por azar tivesse ficado com febre no dia do casting corria o risco de nunca atingir o sucesso; mas certamente há mérito em estar no sítio certo à hora certa e há também quem não se contente com um casting e perservere no seu sonho, ficando mais fácil ter sorte.
Mas a frase tem outro sentido do qual não vou falar agora mas que não deixo de achar interessante como reflexão: será que, nestas condições, vale a pena procurar as pequenas glórias deste mundo? Pois é tão incerto se alguma vez as alcançaremos...