domingo, outubro 08, 2006

Sic transit gloria mundi

Há um tempo que não escrevo para o blog e para ele não ficar esquecido e para eu treinar a escrita decidi escrever mais um texto. Na realidade, este parte da frase que lhe dá o título e que significa "assim passa a glória do mundo". Por vezes penso neste assunto e hoje particularmente veio-me duas vezes à cabeça. Vê-se actores com grande sucesso nos dias de hoje que, pensando bem, há dois ou três anos viviam possivelmente no desemprego ou com empregos não muito bons (caso contrário não os teriam largado para ser actores, em princípio). Após uma participação numa novela, tornam-se famosos de um momento para o outro, o que mostra que um dia pode-se ser mais um para o monte e no outro uma estrela; em casos mais extremos podemos passar de falhados a génios. Van Gogh, por exemplo, foi durante quase toda a sua vida o protótipo do falhado: em jovem queria ir para padre e não foi aceite no seminário, se não estou em erro; ao longo da sua vida viveu da generosidade do irmão, que o sustentava; as relações sociais eram praticamente inexistentes ou quase irrelevantes, à parte a relação com o irmão; após o irmão, dono de uma galeria de arte, convencer Gauguin a passar uma temporada com ele e na sequência da desaprovação da sua obra por este (segundo creio, mas não tenho a certeza de ter sido esta a razão), Van Gogh corta a sua própria orelha. Não obstante isto e possivelmente "ajudado" por estes factos que tornam a sua vida, para alguns, comovente e sendo também exemplo do génio incompreendido, obtém já no final da sua vida o reconhecimento que a sua obra e a sua dedicação mereciam e hoje é um dos pintores mais famosos em todo o mundo e talvez apenas cinco ou seis pintores de todos os tempos consigam rivalizar com ele em termos de fama internacional. Outros poderiam servir de exemplo mas, de facto, a glória é transitória. E, se é transitória no sentido ascendente, também o é no sentido descendente. Ainda hoje, o Pedro Xavier notou que o filme Titanic foi ao seu tempo grande sucesso e ganhou inúmeros óscares e outros filmes mais antigos que nunca ganharam óscares são hoje mais recordados que aquela grande produção.
Isto faz pensar no papel que, de facto, têm o mérito e a sorte. Pois, se no final parece que é feita justiça ainda que tardia, pelo meio parecem acontecer algumas injustiças e julgamentos errados e, no meio destes, pode determinar a sorte que sejamos favorecidos. Não quero dizer que toda a gente famosa e rica tem sorte e não mérito; sorte tem de certeza e mérito provavelmente também, mas é espantoso como, por vezes, um dia em que, por exemplo, uma pessoa é seleccionada num casting pode mudar a sua vida para sempre e dar-lhe o estrelato e, por outro lado, se por azar tivesse ficado com febre no dia do casting corria o risco de nunca atingir o sucesso; mas certamente há mérito em estar no sítio certo à hora certa e há também quem não se contente com um casting e perservere no seu sonho, ficando mais fácil ter sorte.
Mas a frase tem outro sentido do qual não vou falar agora mas que não deixo de achar interessante como reflexão: será que, nestas condições, vale a pena procurar as pequenas glórias deste mundo? Pois é tão incerto se alguma vez as alcançaremos...