segunda-feira, dezembro 11, 2006

Droga e crítica

A droga é um dos problemas mais discutidos da sociedade e é encarado como um dos mais importantes. Aqueles que a ela cedem são desconsiderados pela sociedade no geral, partindo-se do princípio que a droga é má. Ora, ela é má pois traz infelicidade às pessoas e parece-me que é isto que define o mau. Trazendo infelicidade às pessoas, aquele que a consome vai querer por si separar-se da sua dependência, mesmo que só tenha percebido as consequências negativas já depois de consumir. Assim, parece-me desnecessário criticar o dependente e pressioná-lo em demasia, pois ele quer libertar-se da sua dependência. A função da crítica, tal como noutro texto referi acerca das penas, é fazer com que o receptor e aqueles que têm conhecimento dessa crítica aprendam e possamos todos viver harmoniosamente em sociedade; a sua função não é castigar. Punir só por si não tem utilidade alguma, é pura vingança. Assim, a partir do momento em que o indivíduo reconhece sinceramente o seu erro, perante a sociedade e principalmente perante si mesmo, a pena ou a crítica tornam-se desnecessárias; a partir deste momento o perdão toma o lugar da crítica, já que esta não é mais precisa. Tudo isto partindo do princípio de que a droga é má. Se, pelo contrário, se partir do princípio de que a droga é boa também não há razão para criticar quem a consome. Deste modo, a crítica é dispensável em ambos os casos, o que não invalida que se alerte para os malefícios da droga no corpo, pois isso não é crítica, é informação. Aquilo que disse sobre a droga penso aplicar-se a outras áreas dos costumes. Pode-se criticar certos costumes, mas sem perder de vista os fins de tal reparo, de maneira a que ele não se torne contraproducente e não provoque mais revolta e sentimento de injustiça no seu destinatário do que o faça aperceber-se do seu erro.

3 Comments:

At 11:50 da tarde, Blogger Peter Michael said...

Concordo contigo quando dizes que a punição só por si é vingança. Gostei da maneira como espuseste o caso. Em psicologia aprende-se que a punição é um método de condicionamento operante, ou seja, através dela devemos conseguir levar outra pessoa a fazer aquilo que queremos, em princípio para fazer aquilo que está certo, como no caso das crianças que não fazes os trabalhos de casa. Mas também é certo que existem outros tipos de condicionamento operante, como o uso de reforços positivos e negativos, onde a pessoa leva um prémio ou lhe é retirado um estímulo aversivo quando faz o que se pretende. No primeiro caso temos por exemplo quando damos um doce a uma criança que se porta bem, e no segundo temos o caso de deixar que uma criança saia de uma sala onde estava sozinho depois de ter feito os trabalhos que deveria ter feito. Muitos psicólogos não aderem à punição como método de educação, até porque mal utilizado pode provocar disturbios. Com isto tudo quero dizer que existem várias formas de alertar, educar, ensinar, ajudar aqueles que precisam, sem com isso os marginalizar, penalizar demasiadamente ou traumatizar. No caso da droga, temos de ter muito cuidado porque pessoas com este tipo de dependência têm tendência a tornar-se sensíveis. Acho que podemos aplicar aqui uma frase do filme "X-Men 3": Às vezes quando aprisionamos a fera, ela zanga-se".

 
At 8:12 da manhã, Blogger gonn1000 said...

Bem, uma pessoa que consuma drogas não se torna necessariamente dependente destas, e a dependência pode gerar-se em relação a outras coisas, muitas delas legais. A
gora quando a conduta de alguém prejudica ou compromete a liberdade de terceiros, influenciada por drogas ou não, aí sim deve ser punida/criticada.

 
At 12:03 da manhã, Blogger João said...

É certo que nem todas as pessoas que consomem drogas se tornam dependentes (no meu texto estava a falar de consumo de drogas pesadas, até porque o consumo de drogas leves não é criticado) e também é certo que podemos tornar-nos dependentes de muitas coisas, muitas delas legais, o que não quer dizer que, por isso, não sejam reprováveis. Acho que qualquer vício é reprovável, na medida em que retira liberdade a quem o tem. O que acho é que não devemos ser falsos moralistas, nem armar-nos em cavaleiros da moral em relação a quem possui esses vícios, seja o vício da droga, do jogo ou outros; acho que, se de factos somos contra a droga, há métodos mais eficazes de diminuir o seu consumo do que atirar à cara de um drogado que é drogado, isso já ele sabe e não o vai ajudar a resolver nada.

 

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