Regras
Por vezes, critica-se uma pessoa por não estar integrada socialmente ou não obeceder a certos preceitos que se tem como regras da sociedade. Daqui resulta que quem faz esta crítica toma os valores como relativos e criados por uma determinada sociedade num determinado momento; deste modo, a sociedade imporia ou estabeleceria por convenção tácita um conjunto de regras que restringiria as acções dos seus membros, encarando a vida como um jogo para o qual seriam feitas regras que todos teriam de obedecer. É possível que as coisas funcionem assim, mas isto revelaria um certo masoquismo por parte do Homem e eu não sou tão descrente na nossa raça a ponto de achar que a sociedade iria impor a si mesma regras que lhe retirariam liberdade. Assim, acredito que, tal como fenómenos da natureza ocorrem devido à existência de regras físicas, químicas e outras regras não criadas pelo Homem, também as consequências dos nossos comportamentos se devem a regras preestabelecidas e exteriores ao Homem. Um exemplo: parece-me mais provável ser incorrecto roubar ou matar porque há algo exterior ao Homem que determinou que assim fosse, do que a sociedade tenha determinado que o Homem ia sofrer quando o roubassem ou matassem; não é provável e não vejo nenhum indício que mostre que o Homem tem o poder de determinar o que causa sofrimento e o que não causa. Fazendo o paralelismo com o mundo da Química, o Homem pode acender um fósforo, atirá-lo para gasolina e fazê-la arder; mas não pode esperar que, atirando o fósforo, a gasolina não arda. Assim, o que defendo não é o determinismo; o Homem pode escolher o que faz, mas as regras que determinam o que está certo e as consequências dos actos praticados são exteriores a nós.
Caso seja mesmo assim, devemos ser livres para praticar o que está correcto, segundo normas não criadas pela sociedade, e para deixar de praticar o que não está correcto, seja defendido pela sociedade no geral ou não. Pode-se comprovar que nem sempre a generalidade das pessoas tem razão e um desses casos foi a vitória do partido nazi nas eleições; é que, ao contrário de outros ditadores que ocuparam o poder através de golpe de Estado, Hitler foi eleito democraticamente, em coligação com outro partido. Por outro lado, se nos guiássemos sempre por padrões de normalidade e não por valores exteriores à sociedade, provavelmente ainda seríamos caçadores-recolectores, pois não teria havido génios que destoassem, descobrindo leis da natureza e inventando instrumentos que nos permitem ter hoje o conforto que temos.