domingo, dezembro 03, 2006

Futebol-espectáculo

Na sequência da Bola de Ouro atribuída a Cannavaro, defesa-central do Real Madrid e da selecção de Itália, venho fazer a defesa do futebol-espectáculo. Este grande jogador foi, assim, coroado com um justo prémio pelo contributo que deu à selecção de Itália no Mundial e, sem o qual, dificilmente aquela selecção teria sido campeã. A par dele encontra-se Pirlo, jogador tecnicamente mais refinado, mas também defensivo, cujo contributo foi também fundamental. Mais nenhum jogador italiano se destacou dos outros (à excepção talvez de Grosso, outro defesa). Totti é um jogador de excepção mas esteve relativamente apagado no Mundial, para onde foi após meses de paragem e uma recuperação em tempo recorde; assim a Bola de Ouro não lhe poderia ser atribuída. Do lado da França, finalista da competição, poderia a Bola ser atribuída a Zidane, mas este foi expulso na final, o que complicaria a sua eleição. De resto, Malouda, Ribery e outros defesas da França poderiam receber também a Bola de Ouro (como Thuram, por exemplo); Henry foi o melhor marcador da liga inglesa, mas esteve também relativamente apagado no Mundial. Quanto a Ronaldinho, fez uma grande época no Barcelona, mas na selecção do Brasil não mostrou o seu valor e, após ter ganho nos dois anos anteriores a votação sem ter ganho um título internacional, julgo que seria excessivo atribuir-lhe o prémio pela terceira vez consecutiva. De todos, pelo que fizeram ao longo da carreira e nesta época em particular, parece que a escolha justa seria entre Cannavaro e Pirlo. Cannavaro foi escolhido, o que, sendo ele defesa, motivou um coro de protestos, tal como já o futebol praticado no Mundial havia provocado. Diz-se que esta eleição é um atentado ao futebol-espectáculo; pois eu considero que os defesas também jogam e também têm o seu mérito, por vezes pouco reconhecido. Certo que a essência do futebol é o golo, mas este apenas é belo quando construído com mérito e se conseguido após contornar difíceis obstáculos; acho que seria para mim enfadonho ver um jogo que terminasse 11-10, cheio de falhas defensivas enervantes e escusadas, não acharia isto futebol espectáculo. Espectáculo é ganhar usando a melhor estratégia possível e ganhar usando a cabeça e não apenas as pernas. Espectáculo é melhorar e aperfeiçoar o jogo da equipa, até as falhas estarem reduzidas ao mínimo e que quando ocorram (porque os jogadores não são máquinas) a equipa esteja organizada e saiba compensá-las. Mas também o é boas jogadas de combinação no ataque que sejam objectivas e resultem em golo e é também ver que todos os jogadores são importantes e que todos se divertem e não apenas dois ou três em onze que jogam com egoísmo e fazem a equipa perder a bola, sem resultados positivos por mais destreza e perícia que tenham. Para mim, este foi o melhor Mundial a que assisti, pois as equipas que atingiram as meias-finais pouco erraram e é essa, quanto a mim, a beleza do futebol; o belo é o bom e o eficaz. Ainda em relação a Cannavaro, diz-se que é injusto que tenha ganho e Baresi, líbero refinado tecnicamente, não; ora, não é porque antes os defesas eram desconsiderados que, por essa razão, devem continuar a ser; se antes se cometeu uma injustiça que agora se mude de atitude e não se diga "se aquele não ganhou, então este também não ganhará", pois isto teria sido não só injusto para Baresi, como também agora para Cannavaro e nunca nada seria mudado neste aspecto. Os defesas também jogam, vão tendo uma importância crescente nas estratégias e acho correcto que o seu papel seja valorizado consoante merece.

1 Comments:

At 6:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Aqui está uma opinião muito sensata, a qual subscrevo com convicção. Este foi sem dúvida o melhor Mundial de sempre (o que aliás é lógico pois a tendência natural do desporto é o progresso e não o recuo) e Cannavarro foi eleito de forma justíssima como o seu melhor jogador. Viva o futebol espectáculo!

 

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