sábado, setembro 02, 2006

Síndroma de Estocolmo

Uma notícia que me chamou a atenção nos últimos tempos foi a da rapariga que foi raptada na Áustria há penso que oito anos e que há dias conseguiu fugir do seu cativeiro, sucedendo-se o suicídio do autor do crime. Acontece que essa rapariga sofria do Síndroma de Estocolmo, muito comum entre vítimas de rapto, que consiste no facto do raptado ganhar afeição pelo raptor, o que me parece curioso, pois até uma criança deve perceber que aquilo que lhe foi feito é um crime que lhe pode destruir a vida. Presumo, por isso, que inicialmente o ambiente seja pesado ou hostil ou falsamente cordial com medo de represálias. Com o passar do tempo, sendo que o raptor muitas vezes é o seu único contacto e não tem apoio de ninguém, encontrando-se a pessoa sozinha e em posição desfavorável, à mercê de represálias por qualquer comportamento "menos próprio", é possível que a pessoa não aguente tal pressão e tal clima de conflito constante e de ódio e procure adaptar-se ao ambiente que a rodeia, já que não consegue mudá-lo. Assim, neste esforço de adaptação começa a ganhar afecto ao agressor, possivelmente sem se aperceber que está a ceder. O clima não é assim tão tenso entre os dois e cria-se uma ilusão de que o raptado está com o raptor agora por opção e não porque foi derrotado por este último, ilusão que de certo modo serve os interesses de ambos (o raptor deixa de ser criminoso e o raptado deixa de ser fraco e derrotado). A pressão joga a favor de quem tem mais poder, o raptor. O medo também tem um papel decisivo, já que ele leva a que a pessoa ceda, o que é natural e talvez aconselhável dadas as circunstâncias. Sobre isto já devem os psiquiatras e os psicólogos escrito muito mais e melhor mas, de facto, dá que pensar por que razão se estabelecem laços afectivos com alguém que no íntimo sabemos que nos prejudicou gravemente. Não vejo outra razão que não a fraqueza natural do Homem, que não aguenta a pressão e que não tem em certas ocasiões críticas (e julgo que ninguém foge à regra) a estrura mental para racionalizar a questão a cada momento e perceber que o outro o está a agredir nos seus direitos e liberdades, para que este fenómeno suceda. E não me parece que esta seja uma questão relacionada com a inteligência que é necessária para ver a situação friamente, pois homens inteligentes também sofreram deste Síndroma (o criador do Rock in Rio foi um deles); parece-me que se cria um clima de tamanha pressão, pânico e dor que consome as forças das pessoas e obriga-as a ceder.

1 Comments:

At 11:24 da tarde, Blogger Peter Michael said...

Gostei de ler o teu post e, enquanto nao discordo da tua opinião, não posso também ser totalmente a favor. A maneira como expuseste o teu raciocinio fez-me lembrar outras situações que à priori nada têm a ver, mas que se pensarmos melhor talvez consigamos ver algumas semelhanças: O caso em que duas pessoas discutem por qualquer motivo demasiado forte e que normalmente as leva a crer que nunca mais se vão poder falar, ver, desculpar.. (Como por exemplo quando uma pessoa descobre que outra a traíu). Nestes casos, obviamente menos graves a vários níveis (social, psicológico), também pode acontecer que, passados vários dias, meses ou anos, consoante a gravidade e o choque emocional, a pessoa comece por ceder, quer por motivos próprios quer por influências de terceiros.. Quer isto dizer que quando uma pessoa nos faz mal não devemos nunca esquecer-nos do feito, nunca pensar duas vezes, nunca dar uma segunda hipótese mas sermos frios e indolentes? Apesar de gostar e querer que situações desagradáveis sejam evitadas e/ou punidas pela justiça, também satisfaz-me saber que o ser humano ainda é capaz de sentir compaixão e afeição por outros mesmo aqueles que às vezes nos fazem mal. Posso dizer: Antes por eles que por ninguém!

 

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